No post anterior, expliquei como é o processo de seleção para trabalhar como comissário de bordo na Ryanair. Agora vamos falar da parte mais legal: a rotina, o salário e como é trabalhar como comissário na Ryanair.
Após minha chegada em Paphos, esperei cerca de dez dias algumas pendências burocráticas para começar a trabalhar. No início, fiquei com meus colegas de curso em uma casa alugada pelo Airbnb enquanto buscava um local definitivo para morar.
Vale ressaltar que a Ryanair não dá nenhum tipo de suporte em relação à moradia, transporte e afins. Eles ajudam e informam quais documentos são necessários para poder começar a trabalhar na data indicada pela empresa, mas cabe ao novo funcionário buscar casa, carro e tudo o mais para se organizar na nova cidade e no novo país.
Visita da base
Antes de começar a trabalhar de fato, os novos comissários realizam a base visit ao aeroporto. Isso nada mais é do que uma visita guiada pelo supervisor da base (geralmente um comissário com bastante experiência que coordena os assuntos da Ryanair naquele aeroporto), onde são mostradas as instalações do local, explicados os procedimentos que devem ser seguidos e tudo o que se pode ou não fazer ao chegar e sair do aeroporto.

Voos supernumerary
Cada novo comissário que começa a trabalhar na Ryanair tem alguns voos de iniciação, chamado de supernumerary flights. Geralmente são três dias de trabalho onde a pessoa voa para aprender na prática e ganhar experiência.
Nos voos da Ryanair há quatro comissários de bordo. Quando alguém faz um supernumerary, voa como tripulante extra, então nesse caso se tornam cinco tripulantes trabalhando no voo. No meu caso, por exemplo, fiz os meus supernumerary flights com mais um colega de curso, então no total éramos seis comissários: os quatro já “experientes” e nós dois iniciantes.

Escala e rotina
A escala da Ryanair era sempre cinco dias de trabalho e três dias de folga consecutivos. Dentro desses cinco dias de trabalho, era comum haver os HSBY (home stand-by), onde tínhamos que ficar “de reserva”, caso algum colega faltasse, algum voo atrasasse ou acontecesse algo e precisassem de um comissário com urgência. Se nos chamassem, deveríamos estar no aeroporto em uma hora.
Pessoalmente, comigo nunca aconteceu me chamarem de última hora, apenas duas vezes fui notificado no dia anterior porque um colega estava doente e me colocaram para voar no lugar dele. Como só havia três aeronaves na minha base, conseguíamos ter uma noção mais clara sobre a situação dos voos e também sobre os companheiros no grupo do trabalho no Whatsapp.
Eu particularmente gostava muito da rotina, já que tinha bastante tempo livre e era possível me programar com certa tranquilidade. Para se ter uma ideia, houve uma semana em que cheguei a trabalhar apenas um dia, o resto foram folgas e stand-by.
Salário e vantagens
Agora vamos ao que interessa: salário. Desde já, digo que cada base da Ryanair tem um salário, então isso varia de cidade para cidade.
O meu contrato era de 15.71 euros por hora de voo. O máximo de horas mensais que podíamos fazer era 100. Então, a grosso modo, meu salário variava entre 1.100 e 1.600 euros, dependendo de quantas horas voava no mês, das comissões (teoricamente tínhamos 10% das vendas que realizávamos a bordo) e dos descontos. Lembrando que o salário só é divulgado quando enviam o contrato para assinar.
Algo positivo de trabalhar na Ryanair são os descontos em passagens aéreas. Principalmente no verão europeu, quando os preços estão lá em cima, era possível conseguir bilhetes bem mais em conta. Quanto mais tempo você tem de empresa, esses benefícios vão aumentando.

Voos e horários
Na Ryanair os tripulantes sempre voltam para sua base no mesmo dia, a não ser que haja algum problema com a aeronave, o limite de horas de voo seja ultrapassado ou algo do gênero impossibilite o regresso da tripulação.
Os famosos layovers, que são quando a tripulação faz um voo longo e passa uma ou mais noites em outra cidade ou base (e consequentemente dorme em hotéis e tem tempo livre para conhecer o lugar), não acontecem na Ryanair, salvo exceções como situações citadas acima.
Isso pode ser um pró ou contra, depende da pessoa. Há gente que gosta de viajar e a cada semana conhecer uma cidade ou país. Por outro lado, há comissários que preferem voltar sempre pra casa e dormir na sua cama, seja pelo conforto ou pelo cansaço físico e não ter que lidar com fuso horário, por exemplo.
Os voos começavam cedo, por volta das 5h30. Os aviões voltavam no final da manhã ou no início da tarde para a próxima tripulação fazer o trabalho, que geralmente iniciava aproximadamente 13h e iria até de noite. Os comissários deveriam estar 45 minutos antes da hora de partida do voo no portão de embarque.
Deveríamos sempre estar devidamente uniformizados com o cartão de identificação da empresa e levar na nossa crew bag (mala) o colete de alta visibilidade e o VPOS, aparelho eletrônico onde podíamos ver a escala, horários, informações dos voos, documentos e por onde fazíamos as vendas dos produtos a bordo.
Destinos
Como os voos eram bate-volta e terminavam sempre no Chipre, havia dois tipos de viagens: two sectors ou four sectors. Isso é: ida e volta para apenas um destino ou ida e volta para dois destinos diferentes. Ou seja, two sectors eram dois voos e four sectors, quatro voos. Evidentemente, isso dependia da distância e do tempo de viagem entre os lugares.
O itinerário de cada base é diferente, cada aeroporto tem voos para variados países e cidades. Alguns dos voos que fazíamos em Paphos eram para os seguintes destinos: Itália, França, Israel, Jordânia, Grécia, Romênia, Polônia, entre outros.
Vale a pena trabalhar na Ryanair?
No geral, valeu muito a pena trabalhar na Ryanair. Fiz amigos para toda a vida, conheci lugares incríveis e tive uma qualidade de vida muito boa enquanto lá trabalhei, principalmente pela relação entre salário, custo de vida e tempo livre disponível.
Deixei a empresa após meu contrato inicial de seis meses acabar. Optei por não renovar pois não concordava com algumas coisas e já tinha claro que não queria seguir por muito tempo na empresa. Além disso, houve atraso de salário (lembrando que meu contrato era com a Crewlink) que demorou a ser resolvido.
A Ryanair é conhecida por ter salários mais baixos comparado com outras empresas do ramo e por ter um serviço, digamos, mais simples. Entretanto, é uma das melhores escolas de aviação da Europa, sobretudo pela segurança de voo. Aprende-se muito e quem trabalha lá com certeza pode trabalhar em qualquer outra companhia aérea. Como primeira experiência, vale a pena trabalhar como comissário de bordo na Ryanair!